Dossiê Mundo Proibido: Por que "A Bruxa de Blair 2" deu errado?


Existem aquelas continuações que são malditas.

Batman & Robin. Silent Hill Revelação 3D. O Filho do Máskara. Todo Mundo em Pânico 5. Todas essas continuações são tão malditas que mencioná-las é pior do que falar palavrão.

Mas tem certas continuações que são bizarras e enigmáticas que não fica difícil de imaginar o que aconteceu nos bastidores pra surgir aquele negócio.

É o caso de A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras, continuação bizarra do popular A Bruxa de Blair, que fez um sucesso gigantesco na época e era bastante popular e comentado.

E acreditem ou não, esse filme tinha muito potencial. Venham comigo pra ver. 

(OBS.: Pra esse dossiê, eu precisei usar como base pesquisas sobre os bastidores, o filme original e um fan edit feito por um tal de Agent Sam Stanley)


Ok, antes de tudo, deixem-me situá-los do que se trata A Bruxa de Blair 2. Ou pelo menos do que se tratava.

O longa, dirigido pelo documentarista Joe Berlinger, originalmente era basicamente uma produção metalinguística que brincava com o fanatismo exagerado de A Bruxa de Blair que, como falei lá no início, estava sendo muito popular na época, além de analisar em como a mídia conseguia moldar os pensamentos do público através do marketing massivo. E de acordo com o que eu vi pelo fanedit do Sam Stanley, tudo era muito ambíguo (mas nada que comprometesse o entendimento da história), cheio de pequenos segredinhos aqui e ali, chegando até a ganhar um featurette chamado "O Segredo de Esrever" que mostrava detalhadamente a localização desses segredos que culminava em algo ainda maior (featurette esse que você pode ver neste link)

Os personagens da trama eram bem diferentes um do outro e cada um deles representava bem os tipos de fanáticos que o filme original ganhou na época: Jeff era o picareta simpático que queria ganhar dinheiro fácil vendendo pedras, bonecos de madeira e promovendo tours pela cidade de Burkitsville usando a lenda da Bruxa pra render uns trocadinhos, Erica era a representante wicca que se sentia ofendida em como o filme retratou a bruxaria como algo negativo, Kim era a gótica que era chegada no ocultismo e no lado misterioso e realista do filme, enquanto Stephen e Tristen eram os intelectuais que estavam sempre dispostos a debater sobre qualquer coisa, até se o capuz da Heather Donahue tinha vida própria ou não.

Parecia que ia ser um ótimo filme, certo?

Bem, não era o que a Artisan achava na época.


Como já falei aqui no blog várias vezes, executivos sempre estão fazendo merda, e isso acontece MUITO em Hollywood também. E quem leu meu artigo do desenho de Os Caça-Fantasmas vai ver como sempre vão existir executivos que acham que sabem do que o público quer ver mais do que o próprio público.

Quando A Bruxa de Blair fez sucesso, a Artisan (estúdio que distribuiu o filme) queria imediatamente fazer a continuação pra aproveitar o hype do sucesso, enquanto que os produtores Daniel Myrick e Eduardo Sanchez queriam esperar a poeira baixar antes de fazer qualquer sequência. Porém, como o estúdio era dono dos direitos, não estava nem aí e fez assim mesmo.

Porque é claro que sim.

Assim sendo, quando Joe Berlinger entrou na jogada e fez o A Bruxa de Blair 2 dele, o estúdio detestou e decidiu dar uma mexida nele pra dar um toque mais comercial (entenda-se: imbecilizar pro público jovem), acabando com a ambiguidade do filme com cenas de violência desnecessárias e já entregando o plot twist final DURANTE o filme, além de acabar com qualquer chance que o diretor tinha de colocar uma música do Frank Sinatra na abertura de seu filme.

Hey, Frank Sinatra é excelente em qualquer ocasião, não me olhe com essa cara.

De fato, Berlinger ficou tão puto com essas mudanças que ele não dirigiu mais nenhum filme com história linear até 2019, com o lançamento de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal.

Não o julgo, eu também ficaria.


Como era esperado, A Bruxa de Blair 2 foi tão rechaçado pelos fãs e os críticos que só saiu outro filme em 2018. E que também foi péssimo.

Claro, não to dizendo que o filme é bom e tudo mais. As atuações são muito caricatas e a intromissão do estúdio fica bem evidente se analisar a versão de cinema.

Mas felizmente existem pessoas como o Agent Sam Stanley que são dedicadas o bastante para fazer reedições que preservam o que Joe Berlinger queria fazer. E nessa fanedit que assisti, Stanley não só removeu todas as bobagens adicionadas pelo estúdio como também resgatou a ambiguidade que o diretor idealizou no início. Claro, o filme continua longe de ser uma maravilha, mas pelo menos está mais fácil de entender sem se perguntar no final "mas que porra foi essa que eu assisti?"

Deus abençoe os fanedits que conseguem fazer um trabalho melhor que muito estúdio de Hollywood.

Aliás, o tal "livro das sombras" do título não existe. Foi mais uma ideia de jerico da Artisan.

Porque claro que sim.

Até a próxima minha, gente!

A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2, 2000)
Dir.: Joe Berlinger
Elenco: Erica Leerhsen, Kim Director, Jeffrey Donovan, Tristine Skyler, Stephen Barker Turner, Lanny Flaherty
Nota: 8/10 (versão reeditada do Agente Sam Stanley) e 2/10 (versão lançada pela Artisan

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