No Calor do Buraco: O pináculo do entretenimento nacional

ATENÇÃO!!!!! Este artigo não é recomendável para menores de 18 anos. Leia por sua conta e risco, ou espere até o próximo.


Misericórdia, finalmente esse dia chegou.

Acho que tem muito tempo que enrolei pra trazer esse filme, mas a verdade é que eu tava com muito receio de realmente escrever sobre ele por ser bizarro demais.

Sim, até mesmo pros meus padrões.

Mas né, se eu to no inferno então bora abraçar o capeta.

Enfim, finalmente estou fazendo resenha de um filme... indecifrável: No Calor do Buraco, dirigido, escrito e protagonizado pelo antológico Sady Baby.

E se você não sabe quem é, deveria estudar um pouco sobre a história do cinema nacional pré-Globo Filmes e filmes com YouTubers e pessoas com tanta personalidade quanto um Tupperware.

E assim como no filme do Papaco e do Penetrator, esse filme contém MUITA putaria. Digo, MUITA mesmo. E também a qualidade da imagem não está grande coisa, então esperem uma review em alta definição.

Sem mais delongas, vamos lá. E seja o que Deus quiser...


O filme começa com o Sady (tá, eu sei que nos filmes os nomes dos personagens dele tem nome, mas é o Sady, não adianta) enterrando... alguém no meio do mato enquanto dá suas famosas risadas satânicas dignas de um Dr. Evil.

Não, eu não faço ideia de quem é a vítima, também não sei como ele morreu ou por que ele está pelado. Esta é uma das várias inconsistências que estão sempre presentes nos filmes do Sady Baby, então não perguntem.


Eis que de repente, sua namorada acaba se engalfinhando no mato com algum tarado, rolando morro abaixo e indo parar num córrego. E esta é outra característica do Sady: quando menos esperar, vai ter alguém rolando na lama ou num córrego sem qualquer propósito.

Até que aparece Sady com a arma em punho e leva o taradão pro mato e fala alguns dos vários diálogos antológicos que tem nesse filme enquanto sua namorada começa a seduzir o rapaz:


SADY - Você não tava a fim de comer minha mina? Tava a fim né? Agora você vai comer. Vai comer muito. E você agora vai fuder legal. Heh, você vai fuder pra caralho, bicho. Vai fuder muito! (risadas maléficas de Dr. Evil) Quando o seu pau subir, cara, você vai o pipoco que cê vai levar, meu! Também, isso aí nem é pau, isso aí é um pintinho de plástico (mais risadas de Dr. Evil)

E o cara também teve tempo pra montar uma armadilha à la Jogos Mortais: enquanto a namorada de Sady seduz o cara, e com a espingarda amarrada em uma árvore, há um barbante que vai do gatilho até o Johnson do rapaz. E se subir... é, vocês me entenderam.


Dito e feito: o bilau do sujeito sobe como a natureza manda, a espingarda dispara e seus miolos se espalham por toda a parte.

E isso é SÓ O COMEÇO DO FILME. Calma que ainda tem mais pela frente.


Logo depois dos créditos iniciais (onde por algum motivo toca uma música sinistra que se encaixaria muito melhor num filme do Zé do Caixão) com o elenco segurando folhas de cartolina com seus nomes escritos nelas - nem pergunte - , a ação volta pro Sady "se resolvendo" com uma árvore, como dá pra ver na imagem abaixo.

Porque é claro que sim.


Até que, pelas leis da conveniência universal, uma moça perambula por aqueles arredores. É neste momento que Sady aproveita pra emboscar a coitada da moça e a leva pra um córrego só pra pedir emprego na fazenda do pai dela.

.

.

Ok, né...


Então um dos capatazes (interpretado pelo Renalto Alves, grande "comparsa" das presepadas do Sady) aparece e o contrata imediatamente, sem nem ao menos fazer uma entrevista ou dar um contrato pra ele assinar.

Eu conheço maneiras melhores pra pedir e dar emprego emprego, mas tudo bem. Talvez na época não era muito comum distribuir curriculum vitae por aí, sei lá...


Logo mais, o dono do lugar chama todos os funcionários pra clarificar suas funções. Inclusive numa das falas o Sady diz que conhece os funcionários pois pergunta se ainda estão trabalhando lá, porque é claro que sim.

Outra coisa que eu não falei, o filme todo tem uma dublagem bizarra e muito engraçada. E o dublador do dono da fazenda (talvez foi o próprio ator que fez, não sei) com certeza estava com o humor lá pra casa do zaralho, pois ele substitui metade das falas por palavrões. Não só ele, mas TODOS os dubladores desse filme falam quilos e quilos de palavrões, o que deixaria a Dercy Gonçalves (que Deus a tenha!) orgulhosa. Realmente não se encaixam, mas é engraçado de tão bizarro e desconexo que fica com o resto da trama.

Pffffft "trama"...


Anyway, voltando... depois dessa, corta pro meio do mato, onde três moças estão "fazendo a festa" num córrego que tem ali perto enquanto se ouve sons de galinha ao fundo.

Nem pergunte.


Eis que Renalto intercepta um taradão que estava ali e parte pra cima dele sem dó nem piedade enquanto fala coisas que não consegui decifrar porque o áudio dele estava ruim.


Corta então pro Sarampo (um outro funcionário da fazenda que é "especial", se é que me entende), que está ali se divertindo "brincando" com os porcos que estão ali enquanto bebe leite numa garrafa de pinga. E como em todo o filme do Sady Baby, os animais pensam alto como o Garfield, porque é claro que sim.

E não, não estou pulando nada. A edição é realmente uma zona (trocadilho não intencional) assim mesmo, vira e mexe pula pra uma outra situação sem aviso.


Bom, durante dessa fanfarra a fita intercala entre momentos com o Sady e a filha do fazendeiro na cachoeira e o Sarampo "brincando" com uma moça que estava ali perto sabe lá Deus por que, mas presumo que era a cuidadora dos porcos.


Passa um tempo (chuto uma ou duas horinhas pra cada um), o fazendeiro e o capataz resolvem sair, então Sady aproveita pra levar todo mundo pra aprender a fazer sacanagem... no meio do mato.

E o mais engraçado é o Sady coordenando o pessoal durante o rala e rola, como se isso fosse algo normal e corriqueiro de fazer.


Ora, quem não iria querer uma transa com um galã desses, não é mesmo?


Voltando do mato, o carro da gangue transante atola no lodo e então Sady decide afogar o motorista (que, obviamente devido à incorreção política da época, se chama Feijoada) na lama e enchê-lo de porrada por algum motivo não especificado, exceto que em alguns momentos parece até que ele está matando o cara de verdade, de tão realista e convincente que é a cena.

Sério, esse filme pula de uma situação aleatória pra outra situação ainda mais aleatória, nem adianta esperar que eu explique.


Até que de repente Sady é encurralado pelo fazendeiro e pelos capatazes, que estão doidos pra fazer um estrago no rabo do sujeito.

De novo, porque é claro que sim.


De volta à fazenda, Sady é obrigado a cavar a própria cova enquanto o fazendeiro e os capatazes vão jogar palitinho.

Sério, ou esses caras confiam muito no Sady ou são muito burros, porque não é possível que não desconfiem que ele vá arrumar um jeito de cair fora dali e meter bala em todo mundo.


Até porque é exatamente isso que acontece uma cena depois, quando voltam do jogo de palitinho.

É muita burrice, pelo amor de Ed Wood...


E lá vai Sady, o caçador, metendo bala em todo mundo, com uma espingarda tirada sei lá de onde.

Falo sério, se verem na cena anterior ele está com um revólver, mas agora ele está com uma espingarda.

Continuidade pra que, né?


Enfim, enquanto a chacina rola solta, o foco do filme muda pra já tradicional orgia caligulesca que acontece em praticamente todos os filmes do Sady Baby e que ocupa meia hora de fita.

Aliás, nessa cena toca o tema instrumental de O Expresso da Meia-Noite. Não sei o que um filme situado numa prisão turca tem a ver com um pornô da Boca do Lixo, mas ok...

Como eu obviamente não posso mostrar a fanfarra, tem duas coisas curiosas nela que eu quero destacar: o fato de todos os "sons sexuais" terem sido trocados por sons de galinhas, porcos, bois e jumentos...


... e a presença bizarra do folclórico Diabo Loiro (quem for mais velho vai lembrar quem é) fazendo seus números peculiares de esfregar a cara em cacos de vidro e pregar a própria língua em tábuas.

Porque por algum motivo essa virou a coisa mais sexy do mundo na mente tresloucada do Sady.


Falando no Diabo, eis que Sady invade a escola Xeiro de Sexo (escola e cheiro com X... hm...) com um maçarico tacando em fogo em todo mundo, indo do Feijoada...


...e não poupando nem a própria namorada, que é interpretada pela Luana Scarlet, uma das poucas atrizes que são realmente bonitas nesse filme.

Ah sim, descobrimos aqui que ele decidiu matá-la também porque ela faz parte da família do fazendeiro que, por pura conveniência do roteiro, matou a família do Sady há um tempo atrás.

Aliás que fim levou a Luana Scarlet? Não sei se ela tá viva ainda ou se já morreu ou qual é o nome verdadeiro porque é bem difícil encontrar informações sobre ela nas internets, ainda mais quando se usa um pseudônimo.


Um tempo depois, Sady e a filha do fazendeiro falecido (que por algum motivo está vestida de Wilma Flintstone agora) encurralam um caminhoneiro que, pro seu azar, decidiu parar justo onde a dupla estava de tocaia pra achar um jeito de fugir dali.

Agora prestem atenção porque esse é um dos finais mais inacreditáveis e inenarráveis já feitos no cinema.


Sady Baby leva a filha do fazendeiro pro mato (porque é claro que sim) e atira na garota pelas costas, decide deflorar o corpo da menina ali mesmo e pra encerrar com chave de ouro ele olha pra câmera e diz o seguinte:


DAR UMA TREPADA COM UMA PESSOA MORTA
É UMA SENSAÇÃO ARREPIANTE!

Preciso dizer mais alguma coisa?

Bom, o filme não é perfeito. As atuações são... indescritíveis, a edição pula de um momento pra outro, mas é tão bizarro que só vendo mesmo pra acreditar.

Enfim, demorei quase uma década, mas finalmente trouxe essa tranqueira pra cá.

Em breve vai ter um artigo melhor e menos demente aqui, prometo.

Até a próxima, minha gente!

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