Dossiê Mundo Proibido: O dia que sabotaram o desenho dos Caça-Fantasmas


 Eu sei que esse título ficou estranho, mas eu vou explicar logo.

Muito bem, vamos começar com o resumo básico: em 1984 Os Caça-Fantasmas fez um sucesso imediato. Roteiro excelente, direção boa, elenco com química impecável e um legado maravilhoso. Se você ainda não viu... bom, NADA DE ARTIGO PRA VOCÊ, SEU VERME! Vá assistir de uma vez que eu to mandando, seu peste!

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Bom, voltando... geralmente tem alguns casos que filmes pra maiores de idade ganham uma versão em desenho animado. Só pra citar alguns exemplos: Robocop, Rambo, Toxic Crusaders, Ataque dos Tomates Assassinos, Tropas Estelares, Loucademia de Polícia, Os Fantasmas se Divertem, Debi e Loide... só pra citar os que eu lembro de cabeça.

Caça-Fantasmas também acabou entrando nesse balaio. Uma vez que a Filmation estava trabalhando em trazer de volta outro Ghostbusters (aquela série com um gorila e que ninguém dá a mínima), os produtores aproveitaram pra também colocar em prática a versão em desenho animado do quarteto de parapsicólogos.

Ou seja, é por isso que tem o "The Real" no nome original do desenho, entenderam?

A série logo fez sucesso, mas algo de podre no reino de Nova York aconteceu.

Calma que eu conto.

A era de ouro começou obviamente na primeira temporada. E era um elenco de peso: Maurice LaMarche era a voz do Egon, Arsenio Hall era o Winston, Frank Welker era o Ray e o Geleia, Laura Sommer era a Janine e o Peter Venkman era o lendário Lorenzo Music.

É, era o próprio Garfield que fazia a voz.

Claro que aqui no Brasil também fomos agraciados pelos dubladores do filme, que reproduziram a qualidade com maestria.

A série tinha o diferencial de que conseguia ser sinistra e engraçada ao mesmo tempo. As tiradas do Venkman em relação a tudo que está à sua volta, principalmente sua relação de amor e ódio com o Geleia, são impagáveis.

Uma outra coisa é que deram uma função extra pra Janine Melnitz além de só atender os telefonemas: ela era inteligente, eficaz, sarcástica e até ficava lado a lado com os Caça-Fantasmas de uniforme e tudo pra chutar a bunda de qualquer entidade espectral que possa aparecer. Ou seja, use-a como exemplo pra quando alguém dizer que não existiam mulheres fortes nos desenhos da década de 80, tenho certeza que a pessoa vai calar a boca na hora.

Também proporcionaram ótimos episódios como o do espírito do Halloween. E o sucesso já estava garantido durante a primeira temporada, tendo até referências ao primeiro filme que com certeza fizeram muitos fãs terem dado pulos de alegria na sala.

Mas como a ABC mandava e desmandava, já que ela era a responsável por exibir o desenho, ela cometeu o maior erro da sua vida: junto com a companhia Q5 decidiu meter o nariz na produção da série achando que ela precisaria de uns "ajustes".

Grande erro... grande erro...

As mudanças já começaram com a Janine. Na primeira temporada, ela era útil e lutava com seus colegas de trabalho sempre que pintava a oportunidade. Mas depois que a emissora e os malucos da Q5 começaram a "ajustar" o programa, ela ganhou um ar mais maternal para com seus amigos e agia mais como uma dona de casa genérica. Ou seja, lutar contra fantasmas e demônios? Coisa do passado.

Ah sim, ela também mudou de visual e de óculos, pois os doidos da Q5 achavam que as crianças tinham medo dos óculos pontudos da Janine num desenho sobre fantasmas e demônios dos quintos dos infernos (e claro que qualquer menção ao fato de que os fantasmas eram vivos no passado tinha que ser omitida, como se uma criança fosse burra e não soubesse o que era um fantasma), e que ela deveria se vestir menos como uma "vagabunda".

É, pois é.

Outra mudança drástica foi na personalidade do Peter Venkman. Como Bill Murray tinha/tem um ego mais inflado que o Hindenburg, ele achou que o Lorenzo Music não soava exatamente como ele no desenho (o que é estranho, pois ninguém do elenco original além dele reclamou dessa diferença sonora) e exigiu que Lorenzo fosse "convidado a se retirar", entrando em seu lugar Dave Coulier com seu humor característico que era, digamos... uma merda.

Sabem aquele cara insuportável do Três é Demais que fazia (péssimas) imitações e achava que tava sendo engraçado, quando na verdade nunca foi engraçado? Então... como agora era obrigação o "líder" do grupo ter a voz idêntica a de Murray, o Peter do Dave ganhou uma voz que parecia mais o Tonho da Lua falando inglês do que o Peter sarcástico e espertão da primeira temporada. Sem contar que ele se tornou o imbecil do grupo, colocando em risco a vida de todo mundo (e a própria) simplesmente por ser um idiota, além de jurar amor pelo Geleia, antes seu maior inimigo no desenho, já que agora ele não podia tratá-lo mal como fazia antes.

Obrigado, Bill Murray! Você mereceu ter dado voz ao Garfield naquele dois filmes horríveis por causa disso, seu biltre!

E o Geleia... meu Deus o Geleia...

Na temporada anterior, ele aparecia bem pouco, mas sua presença já era o suficiente pra arrancar boas risadas do espectador. Depois das mudanças, ele acabou virando uma criaturinha insuportável que não calava a porra da boca, também se tornando o dono do desenho e ganhando até curtas próprios.

Afinal, segundo os "sabichões" da Q5, as crianças se identificavam muito com o Geleia.

Peraí, então pra eles as crianças eram gosmentas, repulsivas e insuportáveis?

Ok, algumas são, mas no geral?

O problema dos palermas da Q5 e da ABC é que o desenho não era visto só por crianças, mas também por adultos que eram fãs do filme. Não que eles tivessem feito pesquisas antes de fazerem essas adições... até porque eles também foram responsáveis pela atrocidade que foi "Caça-Fantasmas Júnior".

Procurem pra ver.

E como já era de se esperar, a audiência caiu mais do que o Silvio Santos no sorteio da Tele Sena, deixando uma lição de nunca confiar em executivos estúpidos e deixar que mudem algo que já estava indo bem de audiência e comercialmente, uma vez que os brinquedos vendiam como água numa tarde ensolarada de 30ºC

O roteirista J. Michael Straczynski, que tinha pulado fora quando essas mudanças começaram a surgir, até voltou a pedido da emissora pra tentar salvar a série, mas a essa altura o estrago já tava feito e o mundo ficou por um tempo sem um desenho novo do grupo até que em 1997 fizeram Os Novos Caça-Fantasmas (ou Extreme Ghostbusters no original, porque nos anos 90 tudo era EXTREME ou SUPER) com um novo grupo - um dos integrantes é uma gótica muito bonitinha - e a qualidade voltou a ser boa, tanto em animação quanto em roteiro.

Enfim, esse é meu último artigo do ano no blog (ou seja, nada de artigo natalino esse ano). Decidi tirar umas férias pois eu preciso de um tempo pra minha cabeça. Espero que compreendam.

Na minha ausência, se cuidem, bebam com moderação e não alimentem os seus Mogwais depois da meia-noite.

Juízo, hein?

Até fevereiro ou março, minha gente!

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