Uma análise sobre Silent Hill (o filme)


Existem certos games que dão a impressão de que estamos jogando um filme o tempo todo.

Com uma história que te prende, ao mesmo tempo que você joga, você também assiste e torce pelo triunfo do personagem no final.

A franquia Silent Hill sempre se encaixou nesse caso. Por exemplo, em cada game você sempre controla alguém que de alguma forma foi parar na cidade e tem que ajudá-lo a desvendar o mistério por trás dela enquanto lida com figuras que usam uma pirâmide na cabeça, demônios contorcidos e enfermeiras cujo rosto parece que foi devorado por um lobo faminto.

E como vocês sabem da velha história, quando algo faz sucesso os engravatados de Hollywood decidem tirar vantagem desse sucesso pra garantir algum lucro. Assim surgiu Silent Hill (ou na dublagem brasileira, Terror em Silent Hill), uma produção de 2006 dirigida por Christophe Gans e uma das poucas adaptações de jogos que são boas - ao lado do filme do Sonic.

Mas será que ele é realmente bom ou é só papo de fã abilolado?

É o que veremos agora. Me acompanhem.


A trama gira em torno de Rose da Silva (Radha Mitchell), mãe de Sharon (Jodelle Ferland), que não só sonha com a cidade de Silent Hill, mas também grita o nome da mesma constantemente todas as noites. Rose então decide levar a garota até a cidade a fim de saber o por que de isso ser presença constante na vida de sua filha.

Porém, no meio do caminho, Sharon desaparece na cidade durante um acidente de carro, motivando Rose a encontrá-la enquanto investiga os mistérios de uma cidade tomada por um nevoeiro/fumaça/seja lá o que for. E pra isso, conta com a ajuda de Cybil Bennett (Laurie Holden), uma policial que está desconfiada das ações da moça mas também quer saber o que se passa naquela cidade. É quando descobrem que há uma seita liderada pela enigmática e fria Christabella (Alice Krige), uma religiosa que acredita que Sharon possa ser a reencarnação de Alessa, uma criança que supostamente seria filha de uma bruxa, de acordo com alguns dos moradores malucos e seguidores da seita.

Dá pra reparar que o filme pega muito do primeiro game, ao mesmo tempo que tenta jogar coisas do segundo na história. Porém, também tem algumas mudanças que quem não manja de Silent Hill nem vai se importar. Por exemplo, no primeiro game o papel principal é de Harry Mason. Aqui sua participação é substituída por Rose da Silva (não, ela não é brasileira), escrita como uma mulher forte e determinada a encontrar sua filha antes que o pior possa acontecer.

Claro, não tenho absolutamente nada contra mudar a sexualidade de um protagonista, pelo contrário, mas isso acaba prejudicando um pouco a relação que Cybil (que já era uma mulher forte e determinada no game) tinha com Harry, onde no game tinham uma afinidade muito boa que até flertava um pouco pra tensão sexual.

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Tinha sim, você que não percebeu.

Outra mudança é o nome da menina: no game ela se chama Cheryl Mason, aqui ela se chama Sharon. Sim, a pronúncia é mais ou menos igual, mas pra que mudar algo que já estava estabelecido no primeiro game? Pra alguém que é fã dos jogos como o diretor diz ser, é questionável o motivo dessas mudanças terem sido aprovadas por ele.

Assim como também aprovou que o personagem do Sean Bean estivesse na tela pra balancear a presença da Rose, quando na verdade todas as suas cenas são um sonífero tão grande que funcionariam melhor se fosse deixadas no chão da sala de edição, assim o filme não teria duas horas de duração.

Sério, duas horas é exagero, não é não?

Ah sim, o filme também tenta fazer o espectador ter empatia pela mãe de Alessa, Dahlia Gillespie. Claro, se o espectador ignorar que ela queimou viva a própria filha pra dar nascimento ao Deus da seita como se fosse só mais um dia comum na vida de uma mãe.


Ok, se em algumas coisas o filme erra, em outras ele acerta na mosca. A começar pelo clima claustrofóbico e solitário do jogo.

Cada centímetro dos cenários usados no game foi muito bem construído pra ficar perfeito nos mínimos detalhes. Desde o nevoeiro/fumaça/seja lá o que for até aquela mancha de ferrugem que dá a impressão de que o lugar está se deteriorando e está prestes a virar pó a qualquer momento. Os visuais são muito bonitos no final das contas e fazem jus aos visuais do game.

Outro acerto foi a forma como as cenas do game foram refeitas aqui. Sabemaquele momento que você entrava no beco e aos poucos ele ficava escuro enquanto tocava uma sirene ao fundo e só estava você e um isqueiro? Mesma coisa aqui, inclusive com o mesmo ângulo de câmera, o mesmo som da sirene (tá, é quase igual) e a mesma tensão, pois você não sabe o que pode aparecer!

Poucos filmes baseados em jogos conseguem acertar em reproduzir momentos memoráveis. Até Mortal Kombat, que se provou ser um bom filme de artes marciais e uma boa adaptação, mesmo com a violência exagerada faltando e algumas piadinhas infantis que eram obrigatórias em produções do gênero feitas nos anos 90.

Ah sim, os monstros também estão muito bem representados no filme. Desde o Pyramid Head às mencionadas enfermeiras e a alguns monstros retorcidos que eu não consegui identificar, todos são fiéis às suas contrapartes digitalizadas e demonstram bem como é o inferno moderno.

Uma última coisa: a trilha sonora do filme é incrível. Nada de músicas pop ou rock pesadão pra dar um ar exagerado de horror (apesar de tocar Ring of Fire do Johnny Cash em uma cena), aqui todas as músicas compostas pelo Akira Yamaoka para o primeiro jogo são usadas, inclusive aquelas que parecem batidas dadas com uma barra de ferro em um tonel dentro de uma fábrica. E ajudam muito no fator tensão e claustrofobia.

Parabéns aos envolvidos.


Terror em Silent Hill, apesar de fazer jus ao material fonte, é uma balança de acertos e erros que se colidem enquanto o tempo se desenrola. Mas de qualquer forma é uma adaptação bem decente de um game de terror, considerando as bombas do gênero que vieram nos anos 2000 (vide Doom - A Porta do Inferno e Alone in the Dark), além de ser um dos meus filmes de horror favoritos.

Infelizmente o filme teve o azar de ganhar uma sequência ruim (e em 3D, olha só a desgraça!) alguns anos depois onde o Jon Snow é o filho da líder de uma organização extremista e ele se apaixona pela Sharon, que mudou de nome pra Heather.

É, a Heather Mason do Silent Hill 3.

Mas o Christophe Gans garantiu que vai ter mais Silent Hill pela frente, então vamos esperar pra ver se ele não vai fazer igual a Konami e cancelar o lançamento quando o trailer for lançado.

Até a próxima, minha gente.

Ficha técnica
Terror em Silent Hill (Silent Hill, 2006)
Dir.: Christophe Gans
Elenco: Radha Mitchell, Sean Bean, Laurie Holden, Jodelle Ferland, Deborah Kara Unger, Alice Krige, Kim Coates, Emily Lineham, Roberto Campanella, Evie Crawford
Nota: 3.5/5

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