Dossiê Mundo Proibido - A triste história de Swordquest


Desde que o mundo é mundo, os videogames eram considerados grandes instrumentos de entretenimento.

Às vezes o jogador poderia ser um aventureiro que sobe em cipós anda sobre jacarés, ou um encanador italiano (mas nascido no Brooklyn) que salva uma princesa esmagando tartarugas ou sendo um gorila de gravata que luta contra um jacaré caolho em prol das bananas.

Mas um dia, algo tornou jogar videogame uma verdadeira aventura épica.

E tudo começou com, ironicamente, um jogo chamado Adventure para o Atari 2600, lançado lá em 1979.


Pra quem nunca ouviu falar do game, aqui você controla um cavaleiro que precisa resgatar o Cálice Encantado das garras de um macumbeiro e devolvê-la para o Castelo Dourado.

Com um enredo simples e gráficos mais simples ainda (mas inovadores pra época), Adventure foi um sucesso imediato. E não demorou muito pros engravatados da Atari planejar uma continuação.

E com o tempo, esse planejamento acabou se tornando um evento quase que de gala.


Swordquest era considerado um evento de luxo. Para participar você simplesmente comprava o jogo, que vinha com uma HQ da DC Comics, assim você já estava concorrendo a um dos prêmios, cada um valendo 25 mil dólares. Ou seja, totalizando uns 150 mil dólars - uns 80 mil reais. E cada um dos games (cuja temática era os quatro elementos) valiam um prêmio diferente:

- Earthworld: "O Talismã da Verdade", feito de ouro 18 quilates com 12 diamantes e outras pedras preciosas;

- Fireworld: "O Cálice da Luz", um cálice (duh!) de ouro e platina adornado com quartzos, diamantes, jades, pérolas, rubis e safiras;

- Waterworld: "A Coroa da Vida", feita de ouro 18 quilates e incrustada com berilos, diamantes turmalinas verdes, rubis e safiras;

- Airworld: "A Pedra Filosofal", um grande pedaço de jade branca encaixada em 18 quilates de ouro incrustada com diamantes, esmeraldas, quartzos e rubis.

E como você jogava? Simples: você jogava normalmente, resolvia alguns puzzles e lia as HQs que vinham junto na caixa do game. Nelas vinham incluídas pistas que acabavam formando palavras, aí era só anotar e mandar pra sede da Atari. Não apenas isso, mas isso também dava a chance dos quatro vencedores de cada um dos games participarem de um quinto torneio, onde o grande vencedor ganharia a "Espada da Feitiçaria Irrevogável", uma espada (não, jura?) com punho de ouro incrustada com várias joias e uma lâmina de prata. O valor? 50 mil dólares.

É, não pensem que era pouca coisa, a ideia era ambiciosa mesmo.

Earthworld recebeu umas 5000 inscrições, mas somente 8 delas estavam corretas. Então esses 8 concorrentes foram até a sede da Atari, onde receberam uma versão especial do game pra completarem em 90 minutos (sim, speedruns já rolavam naquela época!). O vencedor foi Stephen Bell, que recebeu o Talismã.

Stephen Bell, com 20 anos na época, segurando
o Talismã da Verdade

O evento de Fireworld só aconteceu em 84 mesmo com 50 pessoas. E o felizardo foi Michael Rideout, que levou o Cálice da Luz e provavelmente umas modelos pra consumo próprio.

Tudo ia bem, até que a merda começou a ser jogada no ventilador e se espalhar pela casa toda, sujando as paredes de cocô e deixando a casa fedendo a carniça podre.

Desculpem a analogia nojenta.

Bom, com o andamento da crise dos video games em 83 e com algumas tretas internas envolvendo o presidente da Atari, a empresa teve que pisar no freio no evento pra cortar alguns gastos, fazendo com que Waterworld fosse somente uma distribuição limitada a membros do Atari Club e Airworld jamais fosse finalizado.

A Atari então foi vendida pro Jack Tramiel, que na época era dono da Commodore International (sim, a "mãe" do Commodore 64) e queria mais era focar no ramo dos computadores, que estavam ganhando vida enquanto a crise afetava a Atari mais do que a doença da vaca louca. Por lei a Atari tinha que continuar o concurso (mas secretamente) e no final das contas o vencedor da "Coroa da Vida", do game Waterworld, permanece anônimo até os dias de hoje.

Provavelmente é o Bruce Wayne, mas jamais saberemos.

Michael Rideout atualmente, com o seu Cálice. Com certeza
deve tomar altas doses de vinho nele. Eu faria o mesmo.

E que fim levou os outros prêmios? Uns dizem que a espada estaria na casa de Jack Tramiel, ou que foram enterradas no solo junto com metade do acervo da Atari... Enfim, muitas teorias foram lançadas e muita gente estava ansiosa pra ir atrás do que sobrou de Swordquest.

Mas segundo Curt Vendel, quando Jack Tramiel assumiu a Atari, todos os itens restantes retornaram para a Franklin Mint (a fabricante dos itens) e acabaram derretidos para serem reutilizados em outras coisas.

Um triste fim para um evento que seria revolucionário e entraria para a história.

Anúncio de divulgação do concurso, publicado na
revista Atari Age

Termino este artigo colocando o link da entrevista com o Michael Rideout, feita pela Digitpress. Lá ele conta mais sobre ele mesmo e como o evento mudou a vida dele de algum jeito.

Leiam aqui.

Ah sim, os games tinham uma história, mas eu achei complexa demais pra colocar aqui, então perdoem-me. Partes desse review eu me baseei no artigo escrito no Blog Tectoy (aqui, ó!).

E isso era tudo que eu tinha pra falar. Até a próxima, minha gente!

ATUALIZAÇÃO 25/11/2022: Recentemente a Atari lançou uma coletânea pra nova geração em comemoração aos 50 anos da empresa e nessa coletânea lançaram finalmente a quarta parte de Swordquest, Airworld, em parceria com a Digital Eclipse. Infelizmente reviver o concurso é inviável atualmente, mas pelo menos teve uma conclusão - ainda que tardia.

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