Segagaga: o canto do cisne da Sega
Fazer um jogo ou um console não é uma coisa tão fácil. É preciso um planejamento, pesquisa, além de (obviamente) pessoas talentosas para fazer bons títulos com o objetivo de que sua marca fique com uma boa imagem no mercado.
Nem sempre isso era bom, o que trouxe muita coisa ruim.
Enquanto isso, a Sega enfrentava uma derrota absurda das concorrentes Sony e Nintendo desde a era do Saturn. E com as vendas do Dreamcast ficando cada vez mais abaixo do que queriam, os engravatados perceberam que não conseguiriam manter o nível das concorrentes, então encerraram as produções dos hardwares, focando-se apenas em produzir e distribuir jogos para as outras empresas que citei anteriormente.
Mas eles não saíram só apagando as luzes e tchau, não senhor. Na surdina, lançaram um último joguinho que para eles encerraria a vida útil do Dreamcast antes dele ir para o asilo dos consoles descontinuados: Segagaga, game esse que tem uma história tão trágica quanto aquela que a empresa viveu.
Mas será que é tão trágica assim? É o que veremos agora.
A história do jogo se passa em 2025 (hmmm....) e é um ano conturbado pra Sega pois ela por muitos anos é derrotada impiedosamente pela concorrente Dogma, que só quer saber de lucros e pouco se importa com a qualidade dos jogos.
Pra dar a volta por cima, a empresa lança o "Projeto Segagaga", que consiste em contratar crianças pra ajudá-los a produzir um jogo novo, garantindo assim o interesse dos consumidores com um sangue novo assumindo os negócios e revitalizando o nome da empresa. E a responsabilidade cai em Taro Sega, um garoto fã da empresa e que baterá de frente com muitos obstáculos e encontrará muitos rostos familiares ao longo da sua jornada com a missão de salvar a companhia do buraco. Assim sendo, Taro tem 3 anos (em tempo de jogo) para fazer a Sega voltar ao topo com um título foda.
Deu pra sacar que o jogo é uma espécie de "simulador de Sega" pela sinopse resumida que eu dei, mas no geral ela é bem engraçada. É lotada de referências de jogos da empresa, assim como também umas "leves" cutucadas nas rivais (pra quem não sacou, Dogma é a Sony no jogo), algumas delas parecendo até birra porque ela mesma não estava fazendo tanto sucesso. Inclusive tem uma história bem triste envolvendo o Alex Kidd e o declínio da sua popularidade quando um certo porco-espinho azul chegou dominando a porra toda e o fez acabar trabalhando na lojinha que Taro trabalha depois de levar um pontapé na bunda.
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Ooooopa, spoilers...
A jogabilidade consiste em um RPG simples. Você perambula pelos cenários, encontra alguns personagens, conversa com eles e entra em combate também. Mas aqui o combate é bem... diferente.
Eu explico: como você está numa empresa, grande parte dos combates consiste em usar um recurso chamado "frameover", que nada mais era que limitar o uso dos frames ou até mesmo abusar verbalmente dos desenvolvedores e dos designers gritando com eles de várias formas, desde "esse seu jogo é uma merda e ninguém vai comprar!" ou até mesmo "você nunca arranjará uma namorada, seu virgem de 40 anos!"
E vocês aí achando que fazer jogos era só programar uns comandos no computador e pum. Sabem de nada...
Aliás, lá pelas tantas você também enfrenta vários clones do Ralph Macchio (é, o Daniel-san). Provavelmente alguém da Sega não vai muito com a cara dele e decidiu expressar seu "carinho" pelo ator no jogo.
O game também tem uma leve passada para a jogabilidade de shoot'em up (ou "jogo de navinha" pros brasileiros veteranos), em que você controla Taro enquanto dispara contra as evoluções dos consoles da Sega. Ou seja, se você nunca gostou do Mega Drive ou do Master System, é só fazer a festa e meter bala neles. (aliás, por que você jogaria um jogo da Sega se você odeia os consoles dela?)
Porém ele não é perfeito. Como o jogo só existe em japonês, a luta de diálogos se torna injogável se a pessoa não tiver um enorme conhecimento do idioma, pois em alguns momentos você precisa ler o que o adversário disse pra dar uma resposta à altura, tal qual um Secret of the Monkey Island. E você ainda precisa jogar um minigame que consiste em contratar funcionários para produzirem seu jogo, o que se torna um bocado frustrante pra quem não entende nada de japonês.
Alguns americanos tentaram fazer um projeto pra traduzir o jogo, mas já faz um tempo que pararam e nunca mais se ouviu falar deles.
Pra encerrar, vou contar aqui a história da produção do jogo (quantas vezes falei essa palavra aqui?). O designer do jogo foi um sujeito chamado Tez Okano, que não tinha tanto destaque na empresa quanto um Yuji Naka ou um Yu Suzuki, por isso quando ele apresentou o projeto pros executivos em 1999 eles acharam que era piada e correram Okano de lá.
Aí uns anos depois a Sega anunciou oficialmente que sairia do ramo da produção de consoles. O que eles não sabiam é que a Hitmaker deu uma verba pequena pro Okano produzir o game na surdina e com uma leve ajuda da Toei, que foi a encarregada pelas animações das cutscenes. E como eles já tinham pedido as contas, os executivos finalmente concordaram em lançar Segagaga. Mas claro, pediram pra Okano mudar algumas coisinhas aqui e ali antes do lançamento, pois ele tinha usado imagens de jogos bem famosos (alguns deles você pode ver aqui) e isso só daria mais dor de cabeça pra Sega. Com 200 dólares na mão pra usar no marketing, Okano gastou tudo em prostitutas e whisky.
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Tá, é brincadeira. Na verdade ele só gastou numa máscara e em alguns stand-ins de papelão e saiu divulgando o game pelas lojas. E o jogo até vendeu bem, ganhando até uma edição especial muito bonita.
Infelizmente a Sega não teve o mesmo final feliz como no jogo (bom, na verdade esse é UM dos finais) e como vocês já sabem, parou de vez com a produção de consoles, se limitando apenas a produzir jogos para aquelas que foram suas concorrentes no passado.
É, os tempos estavam mudando.
Segagaga é um jogo bonito e muito divertido. As várias referências a títulos da Sega são um prato cheio pra quem a acompanha por anos a fio. Infelizmente o título desde então se encontra indisponível em inglês, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã, certo?
As imagens vieram deste artigo do Hardcore Gaming 101, que eu acesso há bastante tempo e tem muitas informações interessantes sobre games. Recomendo muito.
Até a próxima, minha gente!
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