Uma breve análise sobre a trilogia Austin Powers


Existem poucas comédias que são genuinamente boas.

Atualmente comédias se resumem a usar umas 10 piadas prontas e a presença do ator/atriz pra fazer graça, o que prova que é uma arte que não são todos que dominam e a maioria faz do jeito errado.

Então eu decidi apresentar a vocês uma das minhas comédias favoritas da década de 90 e que são realmente engraçadas: Austin Powers.

Vejam bem, 007 já estava na moda há um bom tempo e já era hora de alguém fazer paródia disso do jeito certo. Eis que então surge Jay Roach e Mike Myers com uma proposta interessante: trazer um agente secreto estilo James Bond para os tempos atuais (ou os anos 90, no caso) e ver os conflitos culturais entre a atualidade e quem literalmente nasceu no passado.

Com essa ideia então surgiu...


Austin Powers 000: Um Agente Nada Discreto (Austin Powers: International Man of Mystery, 1997)
Dir.: Jay Roach
Elenco: Mike Myers, Elizabeth Hurley, Michael York, Robert Wagner, Mindy Sterling, Seth Green, Paul Dillon, Joe Son, Burt Bacharach

Com o primeiro filme lançado e com a melhor capa de VHS do mundo, Austin Powers mostrou pra que veio. Nesta primeira aventura, Powers impede uma tentativa de assassinato que seria causada pelo Dr. Evil, até que o vilão foge num foguete e se auto-congela. Austin então decide se candidatar para se congelar para o caso do vilão voltar.

Corta pra 1997, com o vilão já descongelado e acompanhado do seu gato (que por um erro do congelamento está pelado e enrugado). Dr. Evil agora descobre que é dono de um conglomerado bem sucedido chamado Virtucon graças ao seu ajudante Braço Direito (Robert Wagner). Junto com seus outros ajudantes, a autoritária Frau Farbissina, o letal Pau Pra Toda Obra e o irlandês Patty O'Brien, ele decide fazer o que qualquer vilão canastrão faz pra viver e pagar suas contas: dominar o mundo. Contudo, ele também precisa resolver seus conflitos paternais com seu filho Scotty (nascido do seu esperma congelado), que agora é um adolescente.

Mas calma lá, Austin também tinha seus conflitos, que era tentar se encaixar no mundo moderno e entender as coisas, como um estilo de vida diferente que não pregava mais o "paz e amor, bicho" que ele vivia nos anos 60 e agora era mais variável. E isso foi um toque bem legal de fazer graça: conflitos de gerações sempre rende material. Tomem por exemplo The Goldbergs, que é situada nos anos 80 mas faz muitas referências bem sutis ao que aconteceria décadas depois.

Mike Myers manda muito bem tanto como Austin Powers quanto como Dr. Evil (ou Dr. Mal, na dublagem brasileira). Aliás, o vilão foi um embrião pro que viria depois: careteiro e cheio das risadas malignas que duram uns minutos até todo mundo ficar em um silêncio constrangedor.

Inclusive uma das melhores cenas do filme é sobre um capanga menor do vilão. Morto por um rolo compressor, o filme depois vai até a casa dele, onde a sua esposa recebe a notícia de sua morte e fica desapontada com o fato de que ninguém se importa com a família dos capangas.

E como tudo na vida faz seu sucesso, dois anos depois Austin Powers ganhou uma continuação.


Austin Powers, O Agente "Bond" Cama (Austin Powers: The Spy Who Shagged Me, 1999)
Dir.: Jay Roach
Elenco: Mike Myers, Heather Graham, Michael York, Verne Troyer, Robert Wagner, Mindy Sterling, Seth Green, Rob Lowe

Continuando de onde o anterior parou, O Agente "Bond" Cama (adoro como o brasileiro é criativo nos trocadilhos) começa com Dr. Evil voltando pro planeta depois de ficar em órbita por algum tempo. Depois de uma vexaminosa aparição no programa do Jerry Springer, Evil retorna às atividades malignas com seus asseclas: Número Dois, Frau Farbissina (que agora namora uma jogadora de golfe com uma monocelha) e Scott Evil, mas agora ganha uma nova ajuda através do seu clone diminuto Mini-Mim (Verne Troyer) e do repulsivo Igor Dão, que é basicamente o Mike Myers com uns quilos a mais e um sotaque escocês.

O novo plano do Dr. Evil é o seguinte: viajar até 1969 e roubar o "mojo" de Austin Powers (uma geleca genética que é responsável pelo sex appeal do personagem) para construir um laser e destruir o mundo, a menos que o presidente dos Estados Unidos pague um bilhão de dólares. Cabe então a Austin, com a ajuda da bela Felicity Façobem, a recuperar seu mojo e sua fonte sexual que movimenta sua vida.

A continuação é mais lembrada pelo Mini-Mim, pelas piadas de duplo sentido - metade delas envolvendo pinto - e pelas tiradas do Igor Dão em si do que pela história, o que talvez não fosse uma boa coisa, pois o filme tem muitas cenas boas e muito potencial, mas também precisa de algo pra guiar tudo senão acaba virando uma zona, tipo quando você ia de ônibus pra uma excursão da escola e durante o trajeto (e no retorno dele) a turma toda fazia a festa dentro do veículo.

Mesmo com essa bagunça, o filme fez um sucesso razoável e deu uma descansada.

Parecia que tudo estava encerrado, não é mesmo?


Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro (Austin Powers in Goldmember, 2002)
Dir.: Jay Roach
Elenco: Mike Myers, Michael Caine, Beyoncé Knowles, Verne Troyer, Mindy Sterling, Robert Wagner, Seth Green, Michael York, Fred Savage

Ok, agora as coisas começam a ficar estranhas porque o Myers de repente entrou num surto megalomaníaco.

Aqui, Dr. Evil agora viaja pra 1975 pra trazer junto com ele Johan Van der Smut/Membro de Ouro, que preparou um armamento chamado "Etapa Rabo", e Evil planeja usar o armamento para atrair um meteoro até um dos pólos do planeta Terra e causar uma inundação. Então Powers mais uma vez é encarregado de impedir os planos do vilão com dois novos ajudantes: Fiofox Cleópatra, uma agente do FBI saída direto do mundo blaxploitation (com penteado afro e tudo), e Nigel Powers, seu próprio pai que não mostra ser muito presente em sua vida.

O filme não tem muita novidade além da presença do Membro de Ouro, que é tão repulsivo quanto o Igor Dão (que também está de volta aqui), e do Casseta & Planeta na tradução.

Não, você não leu errado. A turma do Casseta foi chamada pra ajudar na tradução das piadas de duplo sentido (que aqui se multiplicaram mais que os Gremlins num temporal), o que vez ou outra resulta em várias bolas fora - juro que não foi intencional. Aqui o Mini-Mim ganha um destaque maior quando tenta ir pro lado do bem depois de ser descartado pelo Dr. Evil, que dá toda a atenção pro seu filho - que agora virou um jovem insuportável que só quer a atenção do pai.

Também descobrimos muitos detalhes sobre o passado do Dr. Evil, que acaba revelando ser o irmão gêmeo de Powers e que foi criado por belgas após terem sido separados numa explosão. Mas fora isso, esse terceiro filme (que é o mais fraco) recicla muitas piadas visuais e de duplo sentido e estraga as que já eram engraçadas por ficarem implícitas. É como se uma mesma pessoa estivesse contando a mesma piada pela terceira vez seguida numa roda de amigos no bar, mas não sabendo como terminar e acaba tendo que forçar a barra algumas vezes pra conseguir o mínimo de interesse.

No geral a trilogia é boa. Derrapa feio várias vezes e chega até a ser constrangedor se assistir com alguém junto que não é acostumado com esse tipo de humor. Mas quando acerta causa risadas até num velório.

E isso é tudo que eu tinha pra dizer sobre essa trilogia. Assistam e depois me digam o que acharam, tá?

Até a próxima, minha gente!

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