Grandes séries e animações que não tiveram o devido reconhecimento


Quando se tem uma emissora de televisão, você precisa ter um conceito do que você pode colocar na programação pra manter a audiência. E no processo, algumas séries são criadas, com a expectativa de que atraiam público pra elas e pra emissoras.

Infelizmente nem todas são vistas ou reconhecidas da melhor maneira (seja pela bagunça causada pela emissora ou a história ser um amontoado de clichês) e sempre são consideradas ruins quando ficam sabendo do seu cancelamento (ok, algumas REALMENTE eram horríveis), então cá estou nessa árdua missão de fazer com que essas produções recebam uma segunda chance.

Então se acomodem na cadeira e vejam essas séries que eram realmente boas, mas que não são muito lembradas.


Carnivàle

E por que não começar com uma série que, além de ser muito bem feita visualmente e narrativamente (e pessoalmente a minha favorita), retratava bem a época que era situada?

Situada durante a Grande Depressão em 1934, Carnivàle contava a história de duas pessoas totalmente diferentes uma da outra: de um lado, Ben Hawkins, que após enterrar a mãe na fazenda da família, se une ao grupo circense Carnivále, liderado pelo anão Samson, e acaba atraindo a atenção dos outros integrantes ao saber que tem poderes curativos e visões aterrorizantes. Do outro, Justin Crowe, evangelista que, assim como Ben, começa a ter visões enquanto questiona a sua própria fé e descobre que tem a habilidade de sentir os pecados e a corrupção alheia.

Cada episódio da série era focado no progresso da viagem do circo Carnivàle e as coisas que acontecem a cada lugar que acampam. Pouca coisa era entregue na primeira temporada, mas ela nunca era considerada chata ou preguiçosa, pois a proposta de seis temporadas serviria para explicar lentamente algumas coisas, coisa que virou moda atualmente.

Infelizmente a HBO começou a meter os dedos (e outras coisas) demandando o cancelamento da série alegando que era muito confusa pro público e depois do quinto episódio da segunda temporada, a série meio que tentou fazer tudo às pressas pra amarrar todas as pontas soltas possíveis, acabando indo do nada pra lugar nenhum, ficando somente com 24 episódios.

Aliás, convenhamos que o fato do SBT exibir tudo fora de ordem na madrugada (claro) não ajudou em nada pra que a série fosse vista.

Boa, donos de emissora. Só fazem merda e continuam ganhando quilos de dinheiro.

Bom, pelo menos a série tem uma abertura muito boa.


Freakazoid!

Se tem uma coisa que os anos 90 trouxeram de bom, foi os desenhos animados.

... Tudo bem que também tinha muito desenho merda, mas hoje eu vim falar especialmente de uma que me marcou muito: Freakazoid.

A série narra as desventuras de Freakazoid, alter-ego do nerd virjão Dexter Douglas, que dentre enfrentar vilões aleatórios como um velho com cabeça de cérebro ou um homem das cavernas azul, ele se ocupava quebrando a quarta parede e azucrinando qualquer um que entrasse no seu caminho.

Mais ou menos como o Deadpool, só que mais engraçado.

O humor do desenho era totalmente aleatório, se misturando entre quebras da quarta parede, trechos de filmes antigos, um zilhão de referências uma atrás da outra e por aí vai. E também o fato que o personagem é dublado pelo Guilherme Briggs ajuda muito o desenho a ficar engraçado e ter uma identidade própria.

Porém como alegria de pobre dura pouco, a série teve o mesmo destino de Carnivàle e foi cancelada somente com 24 episódios, pois segundo Paul Rugg (dublador original do Freakazoid) "a Warner Bros. não entendeu a piada" e também as constantes mudanças de horários.

Infelizmente muita gente não entende piadas hoje em dia, não só os executivos de estúdios (e vocês sabem que todo executivo de estúdio é bundão e está sempre tendo ideias estúpidas), mas c'est la vie.


Ren & Stimpy

Sempre tento trazer esse desenho à tona quando eu falo sobre séries boas de verdade, pois este aqui é um belo retrato do que eram os anos 90.

A série retrata a vida conturbada do chihuahua bipolar Ren Höek e do seu amigo saco de pancadas, Stimpy, enquanto passam por altas aventuras que nenhum outro personagem de desenho animado jamais ousou fazer.

A série tinha de tudo: violência, escatologia e um humor tão doentio que faria o especial de Natal do Porta dos Fundos parecer produção infantil do SBT.

Ah sim, também tinham comerciais fake de produtos absurdos (tipo um tronco sendo vendido como brinquedo) e vez ou outra uma sketch do Homem-Torrada em Pó.

E era justamente por isso que ela era boa, pois era difícil de acreditar que a Nickelodeon exibiria algo daquele nível. O choque foi tanto que não só fez sucesso, mas também foi influência pra muitas animações que vieram depois. Dentre os vários momentos antológicos, posso citar um episódio em que Ren arranca as raízes dos dentes pra conseguir novos, ou também o fato que o Sr. Cavalo mantém uma morsa em cárcere privado.

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Ah como eu queria estar brincando!

Bom, considerado a nova fama do John Kricfalusi, eu não fico mais surpreso com essa cena...

Mas né, como nem tudo são flores, o auge da série só acabou depois da segunda temporada, quando rolou a demissão do criador John Kricfalusi, após uma série de brigas internas e um episódio controverso que a emissora não chegou a exibir por ser extremamente violento, pois a partir da terceira, a série não teve a mesma ousadia de antes e se prendeu ao previsível até a quinta temporada.

Também tem os casos de pedofilia e de abuso sexual que ele teve com duas menores de idade, mas vocês podem conferir melhor essa história nesse vídeo do Blameitonjorge.

Um triste fim pra algo que começou sendo revolucionário na indústria, mas que piorou quando o criador decidiu fazer uma versão mais adulta do seriado.

Não procurem por essa versão. Mantenham sua dignidade intacta, por favor.


Esquadrão de Polícia

E pra encerrar uma série que foi tão injustiçada na época que eu devia ter citado.

Esquadrão de Polícia era uma paródia das séries policiais da época e narrava o trabalho de Frank Drebin (Leslie Nielsen!!!!), detetive atrapalhado que trabalha na Police Squad junto do Capitão Ed e do Nordberg.

Sim, o mesmo Nordberg que nos filmes virou o O.J. Simpson.

Cada episódio girava em torno em como a trama se desenrolava da forma mais absurda possível. Algo que era frequente na série, não só as gags rápidas e as coisas que rolavam no fundo das cenas, era o informante. No caso, o informante de Drebin era um humilde engraxate que sabia de TUDO, até mesmo dos posicionamentos de baseball.

Uma outra boa sacada era que em todo final tinha um freeze frame dos atores, só que com eles fingindo que estavam parados ao invés de simplesmente congelar a imagem!

Conforme eu disse antes, todo executivo de estúdio é estúpido, então a desculpa pro cancelamento abrupto da série (durou só 6 episódios!!!) era que o espectador tinha que prestar atenção nas piadas pra entender.

Apesar de ser uma desculpa idiota, em parte ela faz sentido. Em uma entrevista, Nielsen concordou que o espectador realmente tinha que prestar atenção em cada detalhe, pois uma vez que os roteiristas faziam piadas por todos os lados, ninguém naquela época prestava atenção na televisão, então realmente isso prejudicou muito o alcance da série.

Mas pelo menos serviu pra termos uma trilogia ótima de filmes, onde quase todas as piadas foram reutilizadas e o reconhecimento do Frank Drebin ficou maior e melhor.

E é isso tudo que eu tenho por hoje. Tenham um ótimo Natal e que 2020 não tenha os mesmos erros cometidos nesse ano.

Até a próxima, consagrados!

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