Review Pocket - Beowulf, O Guerreiro das Sombras
Sabem do que eu sinto falta hoje em dia? Cinema de ação.
Me refiro ao cinema de ação daqueles que os filmes não se levavam a sério ou tinham uma história elaborada. O mais próximo disso que tivemos foi Os Mercenários do Stallone, mas até aquilo é levado a sério demais.
É aí que entra Beowulf, um filme de ação dos anos 90 que poucos viram, mas quem viu nunca esqueceu da ruindade que é. Mas é uma ruindade boa.
Venham comigo que eu mostro a vocês.
Inspirado num conto inglês entre os séculos 7 e 8 (porém com algumas diferenças), o filme conta a história de um reino governado pelo Rei Hrothgar (Oliver Cotton), que vez ou outra tem seu castelo invadido por Grendel, que mata seus habitantes sempre que aparece. Temendo que a "maldição" se espalhe pelo restante do reino, alguns aldeões construíram um cerco em volta do castelo pra isolar e impedir que alguém entre ou saia da construção.
E como sempre tem alguém imbecil em Hollywood, uma das garotas que conseguiu fugir de lá foi capturada por eles e se preparam pra executá-la pra finalmente libertar o mal absoluto até que chega o herói da história.
Munido com duas bestas semi-automáticas (não pergunte) e usando um figurino mais escuro que o uniforme do Batman, Beowulf (Christopher Lambert, o Highlander em pessoa!!!!) consegue facilmente - claro - exterminar metade dos aldeões e salvar a garota. Estratégia essa que não deu certo, pois a garota decidiu voltar para os seus captores em vez de querer voltar pro castelo e acaba finalmente sendo morta por eles.
Ou seja, já começa com um salvamento totalmente inútil, pois Beowulf matou seus adversários à toa. Ê maravilha de história!
Pois bem, depois disso, Beowulf busca exílio no castelo na missão de acabar com a criatura, mas acaba também se envolvendo em conflitos internos no palácio, pois o rei está sendo assombrado por um segredo do passado - que, diga-se de passagem, tem alguma conexão com o monstro - e a filha Kyra (Rhona Mitra, a Mercy Graves de Supergirl) teve seu marido misteriosamente assassinado.
Cabe a Beowulf dar um fim definitivo ao monstro, ao mesmo tempo em que ele continua atacando todas as noites e se teleportando.
Dá pra perceber que não mudou muita coisa da história original. Quem já leu (eu acho, pois eu não sei se alguém ainda lê alguma coisa atualmente) deve ter visto que nem tudo que acontece no filme está exatamente no papel, pois os produtores queriam manter a fidelidade da obra mas modernizando ela ao mesmo tempo.
E já dá pra notar essa modernização logo no início, pois o filme adota um visual steampunk, que é aquele subgênero de ficção científica que mescla tecnologias atuais com as do passado.
Só pra citar um exemplo: As Loucas Aventuras de James West. É, aquele filme bunda do Will Smith é um western steampunk, onde máquinas a vapor se misturam com carruagens, assim como outras tralhas modernas. E pra um filme de baixo orçamento como esse, o visual impressiona muito e mostra até que o filme foi feito com bastante cuidado.
Outra coisa que dá pra notar logo de cara é a trilha sonora. Uma vez que quiseram adicionar coisas que o pessoal curtia nos anos 90, os produtores decidiram colocar várias músicas eletrônicas na fita a fim de colocar mais adrenalina nas cenas de ação (e existem muitas delas aqui), o que faz lembrar de Mortal Kombat.
Aliás, esse filme curiosamente tem várias semelhanças com o filme do Mortal Kombat, desde a abertura inicial copiada descaradamente (e com uma música idêntica a do The Immortals, ainda por cima) até o envolvimento do produtor Lawrence Kasanoff.
Mas a melhor coisa do filme sem dúvida é o Beowulf. Sim, eu sei que o Christopher Lambert não é lá um grande ator, mas tem que admitir que ele manda muito bem no papel. Seu personagem-título é filho de um mãe humana com o demônio Baal. Constantemente seduzido pelo seu "lado negro", o herói se determina a combater o mal para que assim ele não acabe sendo convertido pro mesmo lado. E isso dá muitas vantagens a ele, pois ele tem um fator de cura muito semelhante a um certo canadense baixinho com garras nas mãos.
O que deixa o filme mais divertido (desculpem o spoiler, mas é um filme de 1999, então corram pra ver enquanto ainda dá tempo) é lá na metade do final, em que a súcubo que assombra o rei - e que é a mãe de Grendel - acaba se transformando num monstro feito com a pior computação gráfica disponível na época. Sério, dá a impressão de que é um daqueles chefões bizarros de quase todo jogo de horror que lançava pro PlayStation 2. É como se os roteiristas não soubessem como terminar a história e incluíram a primeira solução besta que apareceu na cabeça.
Mas querem saber? Isso torna tudo ainda mais divertido de ver.
Beowulf: O Guerreiro das Sombras pode não estar no mesmo nível que um Vingadores Ultimato, mas diverte e mostra a que veio.
Pra quem só gosta desses filmes blockbuster que a Hollywood atual adora espremer a fórmula até a última gota, sugiro que se afaste deste filme. Já pra quem é fã do Christopher Lambert ou adora esse tipo de filme (como eu), chame os amigos, se reúna na sala e se divirtam como se não houvesse amanhã.
Pois isso faz muita falta hoje em dia.
Até a próxima vez!
Ficha técnica
Beowulf: O Guerreiro das Sombras (Beowulf, 1999)
Dir.: Graham Baker
Elenco: Christopher Lambert, Rhona Mitra, Oliver Cotton, Gotz Otto, Patricia Velasquez, Layla Roberts, Vincent Hammond
Nota: 8/10
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